Artigo #2 - Personagens merecem viver suas próprias vidas

"...Cada personagem tem seu próprio demônio para lidar..."
Entenda como a indústria de jogos começa a explorar o mundo das histórias de vários personagens e seus defeitos.


Veja se isso soa familiar para você. Você é o herói que tem nas suas mãos o destino de todo o mundo. Todos os seus habitantes dependem de suas habilidades. Seu personagem vive em um mundo que depende dele, desfrutando de uma importância nesse planeta acima de quase todo mundo. E aí? Familiar, não? Você muito provavelmente já jogou vários jogos em que esse foi o roteiro principal. É um roteiro tão comum que se tornou até banal.

"..Todos merecem ser o protagonista de sua própria vida..."

O problema é que a vida real não funciona bem assim. A vida não é feita de salvar o mundo dia sim, dia não. Todos os personagens têm suas próprias lutas, seus próprios demônios para lidar, do que ficar salvando o mundo para todo mundo. E a grande notícia é que os jogos estão explorando isso e as histórias ficam cada vez mais interessantes.

Em nossas vidas, somos muito mais envolvidos nas histórias que nos cercam. Nossos contos pessoais são muito mais importantes e significativos do que qualquer acontecimento externo. O que nos envolve é o que nós somos capazes de causar uma mudança. Os jogos, finalmente, estão começando a captar esse conceito e trazer essa ideia para o papel principal das histórias. Os mundos dos jogos estão possuindo bem mais do que apenas uma história linear. É um complexo sistema de relacionamentos intrincados entre si que faz uma história ficar tão boa.


Desenvolvedores de jogos estão prestando muito mais atenção às histórias e aos personagens que a envolvem do que antigamente. Enquanto ainda temos vários jogos que se concentram exclusivamente em personagens extremamente poderosos como deuses, cavaleiros e heróis e etc, a sua narrativa tornou-se muito mais detalhada. Outros jogos deram um passo à mais e aperfeiçoaram suas histórias e o desenvolvimento de personagens de uma maneira que tornaram seus jogos inesquecíveis, como The Walking Dead. E cito como exemplo de The Walking Dead pois acredito que é a narrativa tão detalhada da vida dos personagens e seus problemas pessoais, que provoca em nos o sentimento de apego à história.

"...Você não possui o poder de salvar todo o universo. Mas você tem a chance de mudar o seu próprio mundo..."

Por 5 episódios, cuidamos de Clem, protegemos ela, treinamos-a para cuidar de si mesma, e no decorrer dessa experiência, ela se tornou o nosso mundo. Mas agora, na nova DLC de TWD, 400 Days, o mundo, que achávamos que se restringia apenas à ela, se expandiu. Existem outros personagens vivendo com medo, lutando, sofrendo perdas, em condições ainda piores do que os antigos protagonistas. Existem outras pessoas - pessoas que nunca conhecemos - que também merecem simpatia, compaixão e amor.

Com vários personagens que agem como heróis do seu próprio destino, The Walking Dead criou um mundo vulnerável - não exclusivo de apenas um ponto de vista. É exatamente o oposto do exemplo que citamos no começo do texto. Você não possui o poder de salvar todo o universo. Mas você tem a chance de mudar o seu próprio mundo. Não é a história de um grande herói poderoso e sim de várias pessoas com defeitos, qualidades e que demonstram fraqueza como todo ser-humano. 


The Last of Us também aborda essa premissa, construindo a noção de um mundo de seres humanos reais, com motivos reais para lutar. Como Joel e Ellie viajam por todo os Estados Unidos, eles encontram diferentes grupos de sobreviventes. Ao invés de representá-los como grupos que servem apenas para dificultar a experiência do jogo, eles muitas vezes têm uma história. A maioria dos personagens de The Last of Us não é responsável pelo destino do mundo. No entanto, todos eles têm suas próprias lutas para a sobrevivência. Esses personagens povoam o mundo para criar uma experiência mais natural e mais condizente com a realidade.

"...A fantasia de poder onde existe herói perfeito é uma ótima maneira de escapar das pressões de nossas próprias vidas..."

A fantasia de poder onde existe herói perfeito é uma ótima maneira de escapar das pressões de nossas próprias vidas. A princesa precisa ser salva, um grande mal deve ser vencido, e os jogos que nos dão a oportunidade de realizar esses objetivos ainda têm o seu lugar. Entretanto, mais jogos devem estar dispostos a reconhecer mundos com mais de um único foco narrativo e com histórias muito mais significantes. Vários caracteres compartilhando os holofotes incentiva-nos a cuidar mais do mundo e seus cidadãos, tanto quanto nos preocupamos com nós mesmos. Sucessos e fracassos da vida são mais significativos quando são compartilhados.
  Até mais,                                                                              
                                                                                                                                     Alessandro Costa, dono do CheckPoint.       

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